Os Abomináveis Homens de Neves

Por Alessandro Jodar

Deixem-me antecipar que essa coluna vai tratar sobre o recente imbróglio entre Fluminense, Palmeiras e Thiago Neves. Pensei em uma série de maneiras para começar o texto, mas, ao estudar o ocorrido e descobrir sua profundidade e complexidade, decidi começar condensando tudo em duas palavras: QUE CONFUSÃO!!

A princípio, parece muito simples, ou melhor, nem tanto. Bom, pelo menos mais simples do que realmente é. Acompanhe: 1) O jogador é do Fluminense. Seu contrato com o time (segundo o site da CBF) vai até o dia 31 de dezembro. 2) Faltando 6 meses para o fim do contrato, em 18 de agosto, o Palmeiras e Thiago Neves firmaram um pré-contrato. Segundo este, o jogador iria se transferir para São Paulo após a data final de seu vínculo com o Fluminense, no dia 10 de janeiro de 2008 – até aí tudo certo, a FIFA permite esse tipo de prática. O São Paulo, por exemplo, faz isso com muita freqüência. Vide Grafite, Mineiro, Josué… 3) O Palmeiras adianta 400 mil reais ao jogador que, por uma mera coincidência do destino segundo ele, aparece com uma BMW branca, último modelo. 4) Bom, fim de papo. Thiago Neves no Palmeiras em 2008. Certo? Errado!

Agora o circo já começa a pegar fogo. Vamos lá: no dia 5 de outubro (quase dois meses após assinar o pré-contrato com o Palmeiras) Thiago neves renova por três anos com o Fluminense. “Tomei a decisão que o meu coração mandava. Liguei para a minha mãe e minha esposa e elas queriam que eu ficasse. Procurei o Branco [responsável pelo gerenciamento de futebol do Flu] ontem, querendo assinar logo. Ele e o Renato [técnico da equipe] têm sido como pais para mim aqui no Fluminense.”, afirmou o jogador. Muito bonito, Thiago Neves no Fluminense em 2008. Certo? Errado!!

E quanto ao pré-contrato com o Palmeiras, Thiago? A princípio ele negou que tivesse assinado e fez juras de amor ao tricolor. No entanto, ele acabou admitindo que não só assinou com o Palmeiras, como também recebeu os 400 mil. Em sua defesa, afirmou ter sido mal informado por Luiz Alberto, um de seus empresários, e, portanto, “induzido a assinar”. E mais, ele achava que mesmo que firmasse o contrato, poderia “voltar atrás se quisesse”. Mas e quanto aos 400 mil, Thiago? “Ele [seu outro empresário, Léo Rabello] está vendo isso com o Fluminense. Eu só quero jogar”. Mas que mamata, hein? Ser “coagido” por quase meio barão… alguém traga a peroba! Achamos o vilão da história! Certo? Errado!!!

Definir mocinhos e vilões é outra encrenca. Ainda que alguns apontem o jogador como mau caráter e o grande culpado de tudo, a batata esquenta na mão de muita gente. O empresário Léo Rabello acusa Luiz Alberto e até o próprio Palmeiras. Ele afirma que, mesmo tendo 68% dos direitos federativos do jogador, não foi avisado por seu “sócio” – Luiz Alberto, que tem os outros 32% – das negociações com o alviverde. “Nosso pleito é preservar nossos direitos. Há um contrato assinado por mim, pelo Luiz Alberto e a sua empresa, a LA Sports, pelo Paraná e registrado em cartório de Curitiba. Nossa empresa tem direito de negócio, tem que ser ouvida. Qualquer tentativa de registrar algum contrato do Thiago só poderia ser feito com a nossa anuência”, e mais, “O problema é do Palmeiras, que feriu questões éticas e jurídicas”. LA Sports? Paraná? O que essa turma tem a ver? São cenas dos próximos parágrafos. Voltemos aos mocinhos e vilões…

Visando não ser prejudicado, Léo Rabello ainda conseguiu uma liminar na Justiça garantindo que o jogador não possa ser negociado sem o seu conhecimento e participação. Agora tudo faz sentido! O vigarista da história só pode ser o tal do Luiz Alberto! Ele não vê bem dessa forma: “Eu, de bonzinho, pai, passei a ser culpado de tudo. Briguei com Deus e o mundo pelo Thiago, mas nunca peguei dinheiro de ninguém e nunca assinei contrato algum”, “Thiago dizia para todo mundo que eu resolvia tudo para ele. Mas parece que tudo mudou de uma hora para outra. Ele escolheu, por livre e espontânea vontade, assinar com o Palmeiras. Dois meses depois, o vejo renovando com o Fluminense”. E o Palmeiras? “Não houve aliciamento. Ele foi emprestado ao Fluminense pelo Paraná, por isso avançamos no negócio. O Palmeiras não infringiu norma ética, pois fechou o acordo em um período que poderia assinar contrato com o atleta”. Vamos dar uma pausa à caça às bruxas e explicar o que o bendito Paraná tem com tudo isso. Só mais um pepino nessa enorme salada…

No início, Thiago Neves pertencia ao Paraná. Foi assim até que o clube fez uma parceria com a LA Sports, empresa de Luiz Alberto – lembram? Aquela do 5º parágrafo. A partir de então caberia a essa empresa administrar as categorias de base paranaenses, que receberia em troca 50% do valor de venda dos atletas revelados. Isso tudo ocorreu em meados de 2003. Em 2006, Léo Rabello entrou na história. Ele e Luiz Alberto fecharam acordo e ambos passaram a dividir alguns acordos de venda de jogadores. Foi o próprio Rabello que conseguiu levar Thiago Neves – por empréstimo – ao Japão, onde ficou por um tempo. De modo suspeito, dois meses após o negócio, a Systema Assessoria Financeira Ltda – a mediadora de Rabello desde o começo, só não citada antes para evitar confusão – adquiriu 60 % dos direitos comerciais de Thiago. A essa altura, Thiago Neves estava dividido da seguinte forma: 60% da System (Rabello), 20% da LA Sports (Luiz Alberto) e 20% do Paraná. Porém, devido a uma dívida com os dois empresários, o Paraná cedeu a sua parte mantendo apenas um vínculo formal com o jogador: o contrato de número 00477306, registrado pela CBF, que vence no dia 31/10/2009. Na teoria, o Paraná até tem direito sobre o atleta, mas, caso ele interfira em alguma negociação, terá que cumprir um acordo selado com os empresários e pagar 6 milhões de reais.Portanto, na prática o Paraná não apitada nada.

Depois de tanta porcentagem para lá e pra cá, finalmente chegamos aos números de hoje: 68% de Rabello, 32% de Luiz e um contrato de consolação do Paraná. Certo, acho que deu para entender essa trajetória. Difícil mesmo é acreditar que o pobrezinho do clube não ganhou e nem vai ganhar nada com a venda do “seu“ jogador. Aliás, essa pataquada da diretoria desembocou numa das maiores crises da história do Paraná, que por sinal vai abafando o caso como pode. O fato é que estamos chegando próximo ao que realmente importa, a assinatura do contrato com o Palmeiras.

Após tudo isso, Thiago Neves já era campeão da Copa do Brasil e um dos principais nomes da equipe. Ao que tudo indica, eis o que ocorreu então: Luiz Alberto encorajou Thiago a assinar com os paulistas, o jogador por sua vez gostou da idéia de comprar uma BMW novinha e recebu de bom grado os 400 mil adiantados, isso tudo sem parar muito para pensar. É fundamental acrescentar que devido a negócios anteriores, Luiz Alberto tem boa relação com os dirigentes palmeirenses. Já Léo Rabello, que não sabia de nada, quando avisado pela mídia deve ter pensado algo do tipo ‘‘E quando eu levo o meu??“. Aí foi sua vez de chamar Thiago num canto e convencê-lo a assinar pelo Fluminense, daí para frente vocês já sabem o que aconteceu.

Thiago provavelmente se deu conta da burrada e ‘‘ficou de mal‘‘ de Luiz Alberto. Estava trocando o Fluminense, onde já é ídolo e está muito bem adaptado, pelo Palmeiras, o que seria de certa forma uma aposta.

Depois de tanta coluna, seria muita maldade minha não tentar traçar um final para essa história, quase como acabar o filme na metade. Bem, Thiago Neves quer ficar no Fluminense e tem ao seu lado Rabello, detentor a maior parte dos direitos comerciais do jogador. Talvez seja possível provar na Justiça que o contrato com Palmeiras seja ilegal, justamente pela não participação do empresário em sua confecção. O Paraná é carta fora do baralho, Thiago já entrou com uma ação para livrar-se de vez do vínculo trabalhista que tem com o clube, o que derrubaria a hipótese defendida por alguns que questionam a legalidade do pré-contrato alviverde baseados no limite dos 6 meses permitidos pela FIFA (o contrato com o Praná só termina em 2009). Acredito, porém, que Fluminense e Palmeiras entrarão em acordo para que o jogador continue no Rio; os paulistas, por outro lado, também podem engrossar e exigir o pagamento da multa de 2,4 milhões ou que o contrato se faça cumprir. Dessa forma, Thiago Neves viria para o Palmeiras em 2008. Ou ainda pode tudo acabar na Justiça, o que daria ainda mais pano para manga e faria dessa novela um verdadeiro épico. Assim como fez dessa cluna.

Agora, para terminar, vou deixar a batata queimar na sua mão, leitor. Quem é bom moço e quem é vilão nessa história? Você decide.

Se você acha que Thiago Neves é o vilão, digite no seu comentário: 0800 171

Se você acha que é o Palmeiras: 0800 172

Se você acha que é Léo Rabello: 0800 173

Se você acha que é Luiz Alberto: 0800 174

Se você acha que tudo não passa de um mal entendido e que todos estavam bem intencionados: 0800 175

Estamos aguardando a sua ligação! Quer dizer, comentário!

* Agradecimentos ao advogado Luiz Philipe que me ajudou na questão dos contratos e a Luciano Pasqualini, que organizou um dossiê magnífico a respeito do caso.

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Bola fora:

“Futebol é assim mesmo: se vence, perde e empata.” – Do lateral corintiano Gustavo Nery, filosofando sobre a essência do futebol após a derrota do Corinthians para o Flamengo no meio de semana.

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Pitacos…

Santos x Atlético MG
O Santos vem com tudo para manter-se como vice colocado e praticamente garantir sua vaga na Libertadores. Já o Atlético, preocupado com a segundona, promete engrossar para cima do Peixe em plena Vila Belmiro. Um jogo que promete, mas que qualquer resultado diferente de vitória santista será surpresa.
Palpite: Santos

Sport x Palmeiras
O Palmeiras vai a Recife em busca da vitória para compensar a derrota que sofreu em casa contra o Juventude. O Sport, na luta contra o rebaixamento, tem um time que, se não é o supra-sumo da técnica, é muito brigador. No primeiro turno, por exemplo, venceu o Palmeiras no Palestra jogando boa parte da partida com um jogador a menos. Será uma partida disputada em que a derrota pode ser fatal para ambos os lados, principalmente para o alviverde.
Palpite: Palmeiras

Juventude x São Paulo
Tudo depende da disposição dos são-paulinos em campo. Se entrarem para valer, dá São Paulo, caso contrário, os sulistas vêm embalados da vitória em cima do Palmeiras e podem surpreender jogando em casa. Não penso que o Muricy vá aliviar a barra da galera “só” porque foram campeões, mas mesmo assim aposto que a ressaca do título ainda não vai ter acabado. Será que o Juventude carimba a faixa tricolor?
Palpite: São Paulo

Corinthians x Atlético PR
Analisando os jogos restantes do Corinthians, esse é um daqueles que não se pode deixar de vencer. Um empate já seria um péssimo resultado, ainda mais se o Goiás vencer. O Timão que se segure, pois o Atlético, apesar de sua má colocação na tabela, não é nenhuma barbada. Ganhou bem do Grêmio na quarta-feira e quer se livrar de uma vez por todas da ameaça do rebaixamento. Alerta vermelho no Parque São Jorge!!
Palpite: Corinthians


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